HALFTONE #04
LANÇAMENTO DA REVISTA HALFTONE #04 - APRESENTAÇÃO POR SARA AUGUSTO
Time is ticking é o leit motiv da Halftone número 4. Não se trata exatamente de um tema, porque a revista não é temática, mas de uma linha de reflexão que junta os seis portefólios publicados, cujos autores cumprimentamos e a quem agradecemos muito a participação.
Pensar e sobretudo medir o tempo parece-nos hoje irrelevante, não é? É impossível para nós, nos dias de hoje, pensar a nossa história sem história, sem inscrevê-la numa linha onde o individual se cruza com a história coletiva que nos envolve.
Por isso, como diz o editorial, a capacidade de medição do tempo foi uma das grandes conquistas da humanidade. E desde a mais simples observação dos ciclos da natureza e do sol, nunca mais parou a necessidade, cada mais intensa, de medir o tempo. A consciência da passagem do tempo e as diversas estruturas que o medem, que o partem e repartem, tornaram-se uma construção coletiva, capaz de ordenar e desordenar a vida dos homens, objeto do pensamento filosófico, religioso, artístico e literário ao longo dos milénios.
O fascínio com o tempo e com a sua representação resulta sobretudo da consciência da impossibilidade de controlar, de vencer, aquilo que existia, existe e continua para além de nós. O tempo não nos inscreve, existe e passa. Somos nós que nos inscrevemos no tempo e nele situamos os dias, as emoções, as pessoas e as coisas que nos rodeiam.
O nosso editorial fala de tudo isto e para ele remeto a vossa leitura, sem que, no entanto, deixe de referir alguns aspectos.
Um desses aspetos tem a ver com a evolução da "ordem" subjacente ao conceito de espaço-tempo no seu modelo clássico de entidade absoluta, contínua e previsível, para um sistema relativo, descontínuo, ainda assim mensurável, do mundo moderno, para, já no nosso tempo, propor uma dimensão interativa, intermitente e diferencial.
A perceção do tempo, nesta modernidade líquida, porque instável e extremamente subjetiva, assentou no sentido da visão que ganhou preponderância sobre os outros sentidos. Com efeito, é vendo que sobretudo percebemos o mundo, distanciando -se por este motivo as sociedades mais ou menos desenvolvidas tecnologicamente.
A fotografia teve aqui um papel preponderante, pois ela inscreve o tempo, materializa o tempo passado, testemunha o dia de hoje e suspende uma ação que se tornou cada vez mais instantânea. A história da fotografia mostra-nos a evolução do tempo de um "instantâneo", que não é hoje o que foi há um século e meio! A fotografia digital e, sobretudo, as novas tecnologias de comunicação, que incluem a captação e transmissão de imagem, cada vez mais novas todos os dias..., transformaram o "instantâneo" naquilo que ele realmente é: não há intervalo no tempo ou no espaço, tudo é imediato e... virtual.
O homem quis apoderar-se dessa matriz imaterial que é o tempo, como forma de explicar o mundo, o mundo todo. Do relógio, seja qual for, à imagem, seja como for, todos temos a perceção que conquistámos o tempo. Mas não é uma conquista, é uma concessão. Podemos capturar o tempo numa imagem, mas ele não parou e essa imagem acabará por se esfumar e transformar em ruína. Capturamos o tempo, gerimos o tempo, aproveitamos, perdemos e ganhamos tempo, fechamos ciclos e começamos outros, no espaço de tempo que nos é dado. E o tempo, essa continuidade ilimitada, deve sorrir da nossa ingenuidade.
Because, you know, the time is ticking away.
Sara Augusto (membro do Grupo Editorial)